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Publicado: 21 Dezembro 2009
Texto de: Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira
Logo após sua apresentação no painel Copenhague e além: um acordo significativo sobre mudança climática – a perspectiva Verde Global, no Klimaforum09, em Copenhague, perguntei à senadora Marina Silva qual é a sua posição com relação ao consumo de carne diante do fato de que 80% da destruição da floresta amazônica1 se devem à pecuária e o plantio de soja, para ração para animais, e ser este o fator responsável por ¾ das emissões brasileiras?
A senadora respondeu que não necessariamente é preciso reduzir o consumo de carne, uma vez que sua produção pode continuar a ser feita nas áreas já degradadas.
Como a senadora pensa que o Brasil vai mitigar as emissões sem tocar na principal fonte de emissões? 1/3 das emissões no Brasil vêm da criação de gado e 1/3 do desflorestamento. As cidades no Brasil emitem relativamente poucos gases de efeito estufa (São Paulo emite 1,5 e Rio 2,02) comparativamente a outros grandes centros urbanos no mundo (Toronto emite 8,2, Xangai 8,1, Glasgow 8,4, Londres, 6,2 etc.). A média brasileira, no entanto, de 8,2, é compatível com grandes centros urbanos de outros países. Por que isso? Porque a grande maioria dos gases de efeito estufa do Brasil, que contribuem para o aquecimento global, vêm da fumaça do desflorestamento da Amazônia e da pecuária e não de combustíveis fósseis que são os principais culpados na maioria dos países.
De acordo com a FAO, a pecuária está entre as três principais causas de qualquer problema ambiental significativo, incluindo a degradação da terra, mudanças climáticas e poluição do ar, escassez e contaminação de água e perda de biodiversidade.2 Comer menos carne (e outros produtos de origem animal) não apenas é saudável para nosso planeta, também é para nosso corpo. Um estudo da OMS mostrou que um decréscimo em gordura saturada de apenas um por cento resultaria em cerca de 13.000 óbitos a menos por doenças cardiovasculares na Europa por ano.3 E na semana passada, um novo estudo da Lancet indica que uma redução na produção pecuária de 30% pode diminuir o número de mortes prematuras por doenças cardíacas em 17%.4
Como ignorar fatos tão contundentes?
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1 Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente
2 H. Steinfeld et al, Livestock’s Long Shadow, FAO, 2006.
3 Ffion Lloyd-Williams, Martin O’Flaherty, Modi Mwatsama, Christopher Birt, Robin Ireland,& Simon Capewella, Estimating the cardiovascular mortality burden attributable to the European Common Agricultural Policy on dietary saturated fats, Bulletin of the World Health Organization | July 2008, 86 (7)
4 Dr Sharon Friel et al, Public health benefits of strategies to reduce greenhouse-gas emissions: food and agriculture, The Lancet, Early Online Publication, Novembro 2009.