-
Publicado: 07 Março 2021
Um estudo recente publicado pela BMC Medicine (2021) mostrou uma relação entre o consumo regular de carnes e doenças comuns, não cancerosas. Nele foi avaliada a base de dados coletados de 474.985 adultos (homens e mulheres), no Reino Unido, que foram recrutados entre 2006 e 2010 (e acompanhados até 2017), para o estudo de coorte UK Biobank.
Pela primeira vez, devido à ampla abordagem de resultados, avaliou-se a existência de relação entre o consumo de carne e o aumento do risco de doenças comuns, exceto o câncer, que foram identificadas como as principais causas de internação hospitalar no Reino Unido. A avaliação do consumo alimentar foi feita por meio de um questionário dietético, obtido da análise dos registros de saúde dos participantes, onde constavam informações sobre a dieta e a frequência de consumo de alimentos. Os pesquisadores cruzaram essas informações com os registros médicos dos participantes sobre internações hospitalares e, também, com dados de mortalidade durante o período do estudo.
As descobertas deste grande estudo prospectivo mostram e fortalecem as crescentes evidências da Organização Mundial da Saúde e de outros pesquisadores de que o consumo excessivo de carne vermelha e processada, pode ser prejudicial à saúde e está associado ao maior risco de desenvolvimento de doenças. O estudo concluiu que o maior consumo de carne vermelha não processada, carne processada e frango foi associado a maiores riscos de doenças comuns como doenças cardiovasculares (DCV), diabetes, refluxo gastroesofágico, gastrite e duodenite, doença diverticular, pneumonia e pólipos colorretais.
Em média, os participantes que disseram consumir carne regularmente (3 ou mais vezes por semana) apresentaram mais características e comportamentos prejudiciais à saúde do que os participantes que consumiram carne com uma menor regularidade. Os riscos mais elevados são, em parte, explicados pelo IMC mais alto, uma vez que esses estavam presentes, principalmente, nos participantes com sobrepeso e obesidade. E algumas das associações restantes após o ajuste do IMC ou da circunferência da cintura podem ainda ser devidas a outros aspectos da adiposidade.
O estudo analisou que consumir de forma combinada carne vermelha não processada e carne processada, cerca de 70g por dia, foi associada a maiores riscos de DCV, pneumonia, doença diverticular, pólipos colorretais e diabetes. Isso, após considerar outros fatores de risco relacionados ao estilo de vida como consumo de álcool, atividade física e índice de massa corporal (IMC).
Os resultados foram semelhantes para carnes vermelhas não processadas e carnes processadas ingeridas separadamente, respectivamente, cada 50g e 20g por dia, foram relacionadas a um maior risco para DCV, doença diverticular, pneumonia, pólipos colorretais e diabetes, mas um risco menor de anemia por deficiência de ferro. E, ainda, o consumo de 30g por dia de frango apresentou um aumento no risco de desenvolvimento de refluxo gastroesofágico, gastrite e duodenite, doença diverticular, doença da vesícula biliar e diabetes, e um risco reduzido de anemia por deficiência de ferro.
Esses achados estabelecem uma possível relação com a composição nutricional das carnes, principalmente das processadas, que têm grandes quantidades de sódio, um fator de risco para pressão alta, que pode contribuir para DCV e AVC; e são as principais fontes de gorduras saturadas que podem elevar o colesterol LDL, sendo mais um fator de risco para DCV. Além disso, a carne vermelha é uma fonte de ferro heme e a carne processada geralmente contém nitrito e nitratos, que podem aumentar a formação de compostos nitrosos, que são mutagênicos e foram associados a um maior risco de formação de pólipos colorretais. E em relação ao risco de doença diverticular, o consumo de carne pode afetar a microbiota intestinal, alterando a estrutura e o metabolismo da comunidade microbiana.
Este é o primeiro estudo mais abrangente sobre o consumo de carne e o risco de doenças comuns. Vale ressaltar que pesquisas adicionais são necessárias para entender de forma mais detalhada as diferenças de risco e até que ponto essas doenças poderiam ser prevenidas reduzindo o consumo de carne e, também, a quantidade que deveria ser diminuída.
Texto elaborado pela nutricionista Alessandra Luglio
CRN 3 6893 - Coordenadora do Departamento de Saúde e Nutrição da SVB.
Fonte: Papier et al. Meat consumption and risk of 25 common conditions: outcome-wide analyses in 475,000 men and women in the UK Biobank study. BMC Medicine (2021) 19:53