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Publicado: 28 Novembro 2020
O estudo EPIC-Oxford é um dos maiores estudos epidemiológicos já feitos com vegetarianos e veganos do mundo e é, devido ao número de indivíduos avaliados e a duração do estudo, considerado de alto nível e qualidade científica.
Para esse estudo, feito no Reino Unido, foram acompanhadas quase 55 mil pessoas, das quais em torno de 2 mil veganas e mais de 15 mil vegetarianas por uma média de 18 anos.
Levantamos alguns pontos que consideramos importantes para uma interpretação mais realista dos resultados do estudo, seguem abaixo:
Uma questão relevante a se avaliar, é que os dados foram coletados entre 1993 e 2001, e o acompanhamento se seguiu até 2010. Na década de 90, não tínhamos tantas informações a respeito do vegetarianismo como agora, nem ciência robusta publicada e muitas pessoas que optavam pelo veganismo na época tinham motivações prioritariamente éticas e as preocupações com a própria saúde ficavam em segundo plano.
A qualidade nutricional da dieta praticada pelos indivíduos avaliados é um ponto importante a ser levado em consideração. Os dados do estudo demonstram que o consumo médio de fibras entre os vegetarianos e veganos ficou em torno de 28g, o que é pouco, considerando-se uma dieta apenas à base de plantas que prioriza os alimentos in natura e íntegros, característica essencial para que a alimentação, seja ela vegetariana ou onívora, seja equilibrada e segura aportando adequadamente os nutrientes essenciais. Em termos comparativos, uma dieta vegetariana integral, na qual são consumidas boas fontes de cálcio vegetal, como vegetais verde-escuros, leguminosas e sementes, alcança facilmente 50g ou mais de fibras ao dia.
Desta forma, pode-se inferir que o consumo alimentar dos vegetarianos e veganos analisados nos anos 90 nesse estudo, era baseado em alimentos refinados e com pouco consumo de frutas e verduras.
Mesmo assim, o estudo demonstra que o peso médio, calculado com o índice de massa corporal (IMC) dos participantes veganos era menor em relação aos que comiam carnes (um IMC menor é um fator de proteção às principais doenças crônicas não transmissíveis como as cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer). Há uma questão interessante a ser ressaltada sobre isso, pois, quanto maior o estoque de gordura corporal, maior a proteção contra fraturas, pois a gordura age como uma espécie de “almofada” no organismo, protegendo nas quedas.
Além disso, o estudo demonstrou que os vegetarianos e veganos eram mais ativos, o que pode expor mais ao risco de fraturas por si só, mas por outro lado, a prática de atividades físicas também auxilia no aumento da densidade mineral óssea.
O estudo demonstrou que o consumo médio diário de cálcio entre onívoros e vegetarianos estava em torno de 1000 mg por dia, que é a dose recomendada pelas diretrizes nutricionais da maioria dos países, entre os veganos a média foi de 591 mg. Essa dosagem consumida pelos veganos, em alguns estudos, é considerada adequada, porém depende de outros fatores dietéticos, como consumo proteico e principalmente, de vitamina D. É necessário frisar que tão importante quanto o consumo adequado de cálcio, é o consumo de outras vitaminas e minerais que interagem no metabolismo ósseo além de outros fatores dietéticos que diretamente influenciam na manutenção da saúde óssea.
A vitamina D, nutriente essencial para a absorção de cálcio nos ossos, não foi avaliada nesse estudo específico, mas em outro estudo EPIC-Oxford (derivações do mesmo estudo) comprovou-se o consumo bastante inferior nos vegetarianos e veganos, cerca de 0,88 mcg enquanto os onívoros consumiam 3,39.
Com base em tantos dados, podemos observar com esse estudo que uma dieta vegana desequilibrada e baseada em alimentos refinados, com poucas fontes de cálcio vegetal e deficiência de vitamina D, por exemplo, pode sim aumentar os riscos de fraturas, assim como uma dieta onívora desequilibrada que não oferecer as necessidades diárias de cálcio e dos outros nutrientes essenciais para absorção do mesmo. A questão a ser levantada é a qualidade da dieta praticada, independente dela ser onívora ou vegetariana.
Em concordância com publicações atuais de organizações nacionais e internacionais, a mesma base de estudos demonstra menores riscos de doenças crônicas como câncer e doenças cardiovasculares entre vegetarianos e veganos, devido aos menores teores de colesterol e gorduras, principalmente do tipo saturadas na dieta e maiores ofertas de fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes.
Hoje, com a evolução da ciência e a quebra dos principais mitos em torno da dieta livre de ingredientes de origem animal, não somente é possível e praticável seguir uma dieta a base de vegetais, ou seja, vegana, rica em todos os nutrientes necessários para a saúde e prevenção de doenças, como também, esse modelo dietético pode prevenir e até reverter as doenças crônicas, chamadas de doenças do estilo de vida, que estão diretamente correlacionadas com o consumo frequente e exagerado de gorduras saturadas, colesterol, proteínas e outros componentes encontrados em alta concentração nos alimentos de origem animal.
Diante disso, nós, nutricionistas da SVB, reforçamos a importância de uma alimentação equilibrada e adequada nutricionalmente independente do modelo dietético seguido, seja ele onívoro ou vegano. O vegetarianismo estrito ou veganismo, continua sendo um importante aliado na prevenção de diversas doenças e é a maneira mais sustentável e ética de vivermos no planeta.
Fonte: TONG, T.Y.N, et al. Vegetarian and vegan diets and risks of total and site-specific fractures: results from the prospective EPIC-Oxford study. BMC Medicine. v.18, n. 353, 2020.
Alessandra Luglio CRN3 6893
Nutricionista
Coordenadora do Dpto de Saúde e Nutrição
Maria Julia Rosa CRN2 14630
Nutricionista
Equipe do Dpto de Saúde e Nutrição
Renata Victoratti CRN3 54633
Nutricionista
Equipe do Dpto de Saúde e Nutrição