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Publicado: 03 Abril 2019
A mudança no paradigma alimentar da população mundial deve fazer com que este final de década fique marcado como o período de transição para uma nova fronteira alimentar mundial: o veganismo.
As estatísticas mostram que, tanto do ponto de vista comercial quanto cultural, a humanidade está diante de um novo perfil de consumidor, mais preocupado com o bem-estar animal e com o meio ambiente.
Com o advento da internet e o acesso a fontes de informação de qualidade, grande parte do público já entendeu que uma indústria que mata anualmente mais de 56 bilhões de animais não é a resposta para um mundo saudável e com mais compaixão e consciência. De acordo com análise divulgada pelo Euromonitor Internacional, o número global de novos vegetarianos cresceu em 2018, sobretudo em países como China, Indonésia e Índia. No ranking dos dez países com maior aumento, a Nigéria ocupa a liderança com 1,42 milhão, seguido por Paquistão (1,19 milhão), Indonésia (270 mil), Filipinas (238 mil), Alemanha (212 mil) e Brasil (166 mil).
No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em janeiro de 2017, mais de 60% da população afirmou que gostaria de reduzir o consumo de carne. O estudo também descobriu que 73% dos brasileiros se sentem mal informados sobre como a carne é produzida e 35% tem preocupação de saúde quanto ao seu consumo de carne. Embora não exista um cálculo específico do tamanho do mercado brasileiro de produtos veganos, a Associação Brasileira de Supermercado (Abras) afirma que a demanda por produtos vegetarianos é maior do que a oferta no país e responde por boa parte dos R$ 55 bilhões faturados em 2015 pelo segmento de produtos naturais.
A mudança também pode ser observada em países europeus e na América do Norte. Nos Estados Unidos, de acordo com o Instituto Harris Interactive, grande parcela dos americanos está consumindo refeições vegetarianas mais frequentemente. Quase metade dos entrevistados (48%) diz consumir refeições veganas semanalmente. Deste total, 16% afirmam que mais da metade da comida consumida é composta por produtos de origem animal. O interesse no veganismo tem crescido de maneira constante, sobretudo entre o público classificado como ‘millennials’ – aqueles com idade entre 25 e 34 anos. Cerca de 25% deste público se declaram veganos ou vegetarianos.
A mudança no paradigma comportamental alimentar mostrou que veio para ficar e tem chamado atenção de veículos da grande imprensa. Dezenas de revistas nacionais e internacionais como Forbes, The Economist, IstoÉ Dinheiro e El País abordaram a "explosão" do veganismo neste início de 2019.
NOVOS PRODUTOS
O movimento tem despertado o interesse de grandes players da cadeia de produção alimentar. O investimento da indústria no mercado veganos tem se intensificado, principalmente nos últimos dois anos. Em 2018, hamburguerias brasileiras tradicionais anunciaram a inclusão de hambúrgueres vegetais nos cardápios. No cenário internacional, a Unilever anunciou a compra da The Vegetarian Butcher, empresa especializada na produção de proteínas de origem vegetal, na Europa.
A expectativa é que esse movimento ganhe ainda mais força em 2019. No mercado norteamericano, a segunda geração do ‘Impossible Burger’ (Hambúrguer Impossível, na tradução livre) estreou no início do ano. O produto, que já está disponível em lanchonetes e supermercados, é feito a partir de produtos vegetais e elaborado a partir de uma fórmula que reproduz gosto, textura, suculência e sabor idênticos ao hambúrguer produzido com carne animal.
No Brasil, ainda na primeira quinzena de janeiro, a marca de maionese Hellmann’s (Da Unilever), obteve junto à SVB o Selo Vegano, certificação que garante a ausência de produtos de origem animal e de testes em animais na cadeia de fornecimento do produto. O Selo já tem mil produtos veganos certificados e há centenas de outros, principalmente do segmento de alimentação mas também de cosméticos, produtos de limpeza e vestuário, que estão em processo de certificação.
O estudo do Euromonitor, por sua vez, acrescenta que surgem cada vez mais consumidores conscientes que vão além da substituição das carnes e laticínios nas refeições. Há uma forte corrente que rejeita roupas produzidas a partir de pele de animais, cosméticos e até mesmo produtos farmacêuticos, cuja fórmula ou o processo de licenciamento tenha usado animais como cobaias.
Como consequência, a demanda global por ingredientes vegetais em produtos de beleza explodiu nos últimos anos – enquanto os ingredientes com origem animal despencou até 25%. Tudo indica que 2019 chegou para finalmente consolidar uma nova fronteira na cadeia de produção alimentar das indústrias. Todos ganham com o leque cada vez maior de produtos veganos: a saúde do consumidor, o planeta e os animais.