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A União Vegetariana da América do Norte (VUNA), a União Vegetariana Latino-americana (UVLA) e a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) desafiam Al Gore e os ativistas contra o aquecimento global a reconhecer uma verdade bem inconveniente

As organizações vegetarianas, rede de grupos vegetarianos independentes, desafiam os ambientalistas e ativistas contra o aquecimento global a admitir que comer carne é uma das principais causas do aquecimento global. Ao se alimentar de uma categoria mais básica da cadeia alimentar a humanidade pode dar um passo enorme e essencial para reduzir o aquecimento global.

"Al Gore e os ativistas a favor do clima deixam sempre de admitir uma das verdades mais inconvenientes de nossos tempos: a pecuária e o consumo de produtos de origem animal em escala global talvez seja hoje a maior causa (antropogênica) do aquecimento global", diz Saurabh Dalal, presidente da VUNA. "Se tivessem de escolher entre salvar o planeta e consumir produtos de origem animal, muitas pessoas supostamente bem informadas continuariam a devorar as suas asas de frango e seus hambúrgueres."

 

"Além do impacto causado sobre a atmosfera, criar gado é uma forma muito ineficiente de utilização dos recursos, sendo uma das principais responsáveis pela derrubada das florestas, como ocorre hoje na Amazônia. Grande parte das terras do mundo é destinada a pastagens. A indústria da carne é uma das principais consumidoras e contaminadoras da água doce do Planeta, um recurso cada vez mais escasso. Os dejetos produzidos pelos animais criados em sistema de confinamento causam graves problemas ambientais. Para alimentar todos estes animais criados artificialmente são necessários – além de espaço, enorme quantidade de grãos e cereais que poderiam ser dados diretamente para os seres humanos. Num mundo onde a fome é uma realidade, o comer carne torna-se eticamente inaceitável", afirma Marly Winckler, presidente da SVB e coordenadora para a América Latina e o Caribe da União Vegetariana Internacional (IVU).

O relatório de 2006 da Organização de Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) chamado A grande sombra da pecuária (Livestock's Long Shadow, em www.fao.org/newsroom/en/news/2006/1000448) concluiu que a pecuária global contribui com mais gases que causam o efeito estufa do que todas as formas de transporte: assustadores 18% da emissão total (em equivalentes de CO2).

 

A produção de carne e outros produtos de origem animal para alimentação contribuem significativamente com a emissão dos principais gases que vêm causando o aquecimento global, respectivamente 9%, 37% e 65% da emissão total mundial de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Além disso, o potencial de aquecimento global e os efeitos desses gases são mais marcantes, dado que o metano e o óxido nitroso são 23 e 296 vezes mais prejudiciais que o dióxido de carbono. Um estudo da Universidade de Chicago verificou que a dieta americana média, incluindo todas as etapas do processamento dos alimentos, produz anualmente 1,5 toneladas de equivalentes de CO2 a mais do que a dieta sem carne.

 

Mas os meios de comunicação, as autoridades e até mesmo a maioria dos ambientalistas deixam de explicar ao público essa verdade inconveniente, de acordo com Richard Schwartz, conselheiro da VUNA e presidente da associação Judeus Vegetarianos da América do Norte. "A dieta baseada em produtos animais ameaça o nosso planeta", diz Schwartz. "Todas as refeições, assim como as viagens, são decisões que influenciam o clima. Os que têm condições de educar o público deveriam ajudá-lo a entender que, na verdade, a opção alimentar é mais importante do que a escolha do automóvel".

 

Por essas e outras razões (veja a seção seguinte), a VUNA, a UVLA e a SVB convocam Al Gore e a comunidade ambientalista a transferir a carne do prato para o centro do programa de luta contra a mudança do clima. "Vamos pressionar também governos, empresas, instituições religiosas e educacionais e outros grupos para que promovam ativamente a dieta baseada em fontes vegetais e seus enormes benefícios, além de apoiar a todos com informações sobre escolhas pró-ambientais", disse Dalal.

 

CONTEXTUALIZAÇÃO

 

Hoje há no mundo mais de 50 bilhões de animais de criação destinados todo ano ao abate. Além do grande impacto para o aquecimento global, isso contribui de forma significativa para a destruição das florestas tropicais e outros habitats importantes, a extinção rápida de espécies, o desgaste e a erosão do solo e outras ameaças ambientais. Devido ao seu grau elevado de ineficiência se comparada à produção de proteína vegetal, a pecuária exaure, de modo desproporcional, as reservas já pequenas de água potável, terra, combustíveis e outros recursos. Para piorar, o relatório da FAO prevê um aumento da demanda de produtos de origem animal que, até 2050, dobrará o número de animais de criação.

 

O mais preocupante é que a Mesa-Redonda Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), grupo composto de centenas de cientistas importantes do mundo todo, prevê efeitos catastróficos se não houver mudanças rápidas. Vários cientistas renomados do setor advertem que, caso as condições atuais continuem inalteradas, em dez anos o aquecimento global pode fugir ao controle.

 

Além dos benefícios ambientais, décadas de pesquisas indicam que, se a população em geral trocasse a carne e outros alimentos de origem animal por alimentos vegetais, isso reduziria drasticamente as doenças cardíacas, o câncer, a obesidade e outras doenças crônicas degenerativas que hoje em dia geram custos globais de trilhões de dólares em assistência médica. Diminuir a escala global de pecuária também permitiria que a terra arável, a água potável e outros recursos agrícolas alimentassem centenas de milhões de pessoas a mais. Como nos alertam ecólogos de renome como Eugene Odum e Garry Barrett, "quando se pensa a respeito da pressão da população sobre os recursos naturais e o meio ambiente, não se deve esquecer que não somente existem mais animais domésticos do que pessoas no mundo, mas que esses animais também consomem cerca de cinco vezes mais calorias do que as pessoas".

 

Alimentar-se com uma dieta vegetariana ou vegana não significa abandonar o prazer de comer. De fato, os pratos vegetarianos atuais são tão saborosos, se não mais, quanto àqueles encontrados numa dieta baseada em produtos de origem animal. Hoje, muitos chefs famosos cozinham sem utilizar ingredientes de origem animal.

 

Mais informações sobre a ligação da dieta com o aquecimento global e outros impactos podem ser encontradas em:

 

- SVB (www.svb.org.br)

 

- UVLA (www.ivu.org/uvla)

 

- VUNA ( www.ivu.org/vuna/)

 

 

 

Contato:

 


Paula Brügger, Profª Dept de Ecologia e Zoologia – UFSC; coordenadora do Dep. de Meio Ambiente da SVB: svb@svb.org.br

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