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No início de 2014, foi colocado em consulta pública o novo Guia Alimentar do Ministério da Saúde - principal referência para políticas públicas no Brasil em relação à alimentação -, cuja última edição havia sido publicada em 2008.
 
A SVB fez várias contribuições solicitando a inclusão do vegetarianismo, sua viabilidade e benefícios, tendo suas solicitações qualificadas durante debate na Faculdade de Saúde Pública da USP, em março de 2014, como "muito pertinentes". A SVB publicou notícia em abril de 2014 com seu parecer que foi enviado diretamente ao Ministério da Saúde.
 
As solicitações da SVB foram parcialmente acatadas. A versão definitiva do Guia, publicada somente em novembro, reconhece de que a alimentação vegetariana estrita é viável e afirma que carnes e laticínios não são imprescindíveis para uma alimentação saudável.

A nova edição do Guia, tal como foi colocada em consulta pública no início do ano, não trazia nenhuma menção à possibilidade de o indivíduo adotar uma dieta vegetariana, apesar de quase 10% da população já se declarar vegetariana. Isso representava um retrocesso, mesmo considerando-se a conservadora menção ao vegetarianismo que havia na edição anterior, de 2008. O retrocesso foi evitado, mas a menção ao vegetarianismo ainda é tímida no Guia Alimentar 2014. "Por diversas razões, algumas pessoas optam por não consumir alimentos de origem animal, sendo assim denominadas vegetarianas. A restrição pode ser apenas com relação a carnes ou pode envolver também ovos e leite ou mesmo todos os alimentos de origem animal", diz o Guia. E continua: "Embora o consumo de carnes ou de outros alimentos de origem animal, como o de qualquer outro grupo de alimentos, não seja absolutamente imprescindível para uma alimentação saudável, a restrição de qualquer alimento obriga que se tenha maior atenção na escolha da combinação dos demais alimentos que farão parte da alimentação".

Diversos conselhos de nutrição ao redor do mundo, como a American Dietetic Association (EUA) e o Conselho Regional de Nutrição 3ª Região (Brasil), afirmam com segurança que a dieta vegetariana, incluindo a "vegana" (vegetariana estrita), pode ser adotada por qualquer pessoa e em qualquer fase da vida.

Para o Dr. Eric Slywitch, Diretor do Departamento de Medicina e Nutrição da SVB, a garantia desta menção mínima ao vegetarianismo foi essencial, mas o principal Guia Alimentar do país ainda precisa evoluir para falar do vegetarianismo de maneira mais clara e segura. "O reconhecimento de que não é necessário comer carnes e derivados para manter boa saúde pode ser visto como um avanço, mas ainda é bastante tímida a forma com que esse reconhecimento é colocado - sobretudo quando comparado a pareceres de instituições de outros países, como a American Dietetic Association e a Dietitians of Canada, e com o parecer do nosso próprio Conselho Regional de Nutrição 3ª Região".

Recomendando uma alimentação predominantemente de origem vegetal, o Guia afirma, ainda, que “alimentos de origem animal são boas fontes de proteínas e da maioria das vitaminas e minerais de que necessitamos, mas não contêm fibra e podem apresentar elevada quantidade de calorias por grama e teor excessivo de gorduras não saudáveis (chamadas gorduras saturadas), características que podem favorecer o risco de obesidade, de doenças do coração e de outras doenças crônicas”.

Com três páginas dedicadas à argumentação ambiental em favor da alimentação vegetariana, o parecer da SVB submetido à apreciação do Ministério da Saúde em abril de 2014 parece também ter surtido efeito nesta área. O novo Guia Alimentar, assim, também traz à luz alguns dos mais nocivos impactos ambientais da criação de animais para consumo.

“A diminuição da demanda por alimentos de origem animal reduz notavelmente as emissões de gases de efeito estufa (...), o desmatamento decorrente da criação de novas áreas de pastagens e o uso intenso de água. O menor consumo de alimentos de origem animal diminui ainda a necessidade de sistemas intensivos de produção animal, que são particularmente nocivos ao meio ambiente. Típica desses sistemas é a aglomeração de animais, que, além de estressá-los, aumenta a produção de dejetos por área e a necessidade do uso contínuo de antibióticos, resultando em poluição do solo e aumento do risco de contaminação de águas subterrâneas e dos rios, lagos e açudes da região. Sistemas intensivos de produção animal consomem grandes quantidades de rações fabricadas com ingredientes fornecidos por monoculturas de soja e de milho. Essas monoculturas, por sua vez, dependem de agrotóxicos e do uso intenso de fertilizantes químicos, condições que acarretam riscos ao meio ambiente, seja por contaminação das fontes de água, seja pela degradação da qualidade do solo e aumento da resistência de pragas, seja ainda pelo comprometimento da biodiversidade. O uso intenso de água e o emprego de sementes geneticamente modificadas (transgênicas), comuns às monoculturas de soja e de milho, mas não restritos a elas, são igualmente motivo de preocupações ambientais", reconhece o Ministério da Saúde no novo Guia.

A interlocução da SVB com o Ministério da Saúde para assegurar uma melhoria do Guia Alimentar em relação ao vegetarianismo já vinha de longa data. Em setembro de 2013, o Dr. Eric fez foi convidado a apresentar os benefícios nutricionais da alimentação vegetariana em uma reunião promovida pelo Ministério para discutir as bases do novo Guia Alimentar, já visando à sua redação e publicação em 2014. 

A SVB se orgulha de ter participado efetivamente do processo de construção desta abordagem mais amigável ao vegetarianismo na nova edição do Guia Alimentar, oito anos depois de sua última edição.

 

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